Indígenas fazem vigília no Museu Nacional e exigem devolução do Manto Tupinambá à Bahia

  • 03/07/2025
(Foto: Reprodução)
Manifestação marca aniversário de um ano do retorno do objeto sagrado ao Brasil, mas artefato foi direcionado ao acervo do museu, no Rio de Janeiro. Indígenas da etnia, do distrito de Olivença, no sul da Bahia, reivindicam o envio para o solo baiano. Indígenas Tupinambá realizam vigília no RJ e exigem devolução objeto sagrado à Bahia Cito Os indígenas da etnia Tupinambá da cidade de Ilhéus, no sul da Bahia, se deslocaram até o Rio de Janeiro para protestar pela devolução do Manto Sagrado Tupinambá, artefato recuperado pelo Brasil em 2024, ao solo baiano. O grupo é do distrito de Olivença e reivindica o objeto, que é parte da história da etnia e foi retirado da região em tempos coloniais. O artefato estava na Dinamarca, exposto no Museu Nacional do país europeu. O governo dinamarquês o doou ao Brasil para ajudar na recomposição do acervo perdido com o incêndio que destruiu o Museu Nacional, em 2018. Em meio aos protestos, o grupo fará uma vigília atrás da biblioteca do Museu Nacional, onde o manto está armazenado, da madrugada desta quinta (3) até sexta-feira (4). O dia 4 de julho marco o aniversário de um ano do retorno do artefato ao Brasil. Abrigados no Instituto Cultural Unicirco, os indígenas promoveram uma série de diálogos, palestras e rituais desde a última segunda-feira (30). Com a presença de parceiros de luta, como o ator e apresentador Klebber Toledo, o grupo enfatiza a importância da recuperação desta parte de sua história. Indígenas fazem vigília no Museu Nacional e exigem devolução do Manto Tupinambá à Bahia Reprodução/Redes sociais Ao g1, Bekoya Tupinambá, representante do Conselho Indígenas Tupinambá de Olivença (Cito), ressaltou que a reivindicação quanto à devolução do manto à Bahia começou nos anos 2000. Isso porque uma das figuras mais importantes da etnia, Nivalda Almaral, a Amotara, foi a primeira a exaltar o papel central do Manto Sagrado para o grupo. A anciã se conectou com o artefato durante a exposição Brasil 500 anos, que aconteceu em São Paulo. Na ocasião, o artefato havia sido emprestado pelo governo da Dinamarca. Considerado como uma entidade sagrada, o manto é muito esperado pela etnia, que sentia o retorno de um "patrono". Por meio da oralidade, os indígenas Tupinambás guardam até os dias atuais a memória do roubo do artefato. "Nossa cultura, muito baseada na oralidade, [...] é a prova material que a gente trabalha dizendo que esse manto é nosso e ele tem que voltar para a Aldeia Mãe, que é Olivença, distrito de Ilhéus", pontuou Bekoya, que é também ativista da causa indígena e uma das responsáveis por organizar a vigília na capital fluminense. "Esse manto foi tirado de um baú de couro que ficava guardado na igreja Nossa Senhora da Escada, que foi construída com mão de obra escravizada indígena, já que ali era um assentamento jesuíta, e este manto estava guardado", explica Bekoya. Essa informação foi repassada ao grupo por Amotara, que conheceu a história através de seus avós e bisavós. Ativista aponta exclusão do povo Tupinambá de Olivença dos cuidados do manto Após mais de 300 anos exposto no Museu da Dinamarca, o Manto Tupinambá voltou ao Brasil em setembro de 2024. O retorno foi celebrado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e pelo governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), que é autodeclarado indígena. Ativista aponta exclusão do povo Tupinambá de Olivença dos cuidados do manto Foto: Ricardo Stuckert / PR A cerimônia aconteceu na sede do Museu Nacional, localizada no Rio de Janeiro, onde o retorno da memória resgatada foi comemorado. Apesar de contar com a presença da cacica Jamopoty, do povo Tupinambá de Olivença, os indígenas do sul da Bahia não foram incluídos em um debate para o retorno do artefato sagrado à sua terra de origem. O último encontro dos indígenas com representantes do governo aconteceu em março deste ano, mas para discutir a demarcação das terras da etnia em Olivença. Ainda sem a resolução deste ponto, uma vez que a terra já demarcada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ainda não foi oficializada, o grupo se sente silenciado sobre as discussões essenciais para a história dos Tupinambá. "Nessa vigília, a gente vai deixar bem claro que quer sim um retorno, que quer começar um diálogo com o Estado, porque a gente acredita que assim como o governo do Estado se autodeclara indígena Tupinambá, que ele tenha esse diálogo com o povo, em assembleia e diante do conselho", enfatizou a ativista. Para além da repatriação do manto Tupinambá, o povo de Olivença também reivindica o retorno de outros 10 mantos que continuam na Europa. Para isso, eles pretendem construir um local na cidade, onde esses artefatos, considerados como anciãos do povo, ficarão protegidos. Os indígenas já estão articulados com o arquiteto paulista Marcos Rosembaum — conhecido pelos trabalhos arquitetônicos voltados para comunidades do interior do Brasil — e a professora Iazana Guizzo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do projeto de extensão Floresta Cidade. Ativista aponta exclusão do povo Tupinambá de Olivença dos cuidados do manto Reprodução/Redes sociais LEIA TAMBÉM: Dois de Julho: Castelo Garcia D'Ávila foi usado por indígenas como base de proteção contra tropas portuguesas 'Terras em Guerra': assista aos cinco episódios da série sobre os conflitos entre indígenas e produtores rurais da Bahia Eu Te Explico #138: a complexidade por trás do tensionamento entre indígenas e produtores rurais no sul e extremo sul da Bahia Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Líder indígena Tupinambá diz que manto levado por dinamarqueses falou com ela Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2025/07/03/indigenas-tupinamba-exigem-devolucao-do-manto-tupinamba-a-bahia.ghtml


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